Em entrevista ao Infobae, Santiago Nieto, diretor-geral do Instituto Mexicano de Propriedade Industrial (IMPI), detalhou as estratégias do governo mexicano no combate à pirataria e ao contrabando. Ele destacou que essas práticas não se limitam a questões econômicas, mas estão diretamente ligadas à lavagem de dinheiro, evasão fiscal e ao crime organizado.
Durante 2024, Miguel Tunjano, coronel aposentado da Polícia Antinarcóticos da Colômbia e analista de políticas públicas da Universidade Nacional da Colômbia, compartilhou com o Infobae México sua visão sobre os métodos usados pelos cartéis de drogas para financiar suas atividades. Ele enfatizou que organizações criminosas mexicanas, como o Cartel Jalisco Nova Geração (CJNG), o Cartel de Sinaloa e Los Zetas, estão presentes na Colômbia e realizam pagamentos a grupos locais por meio de diferentes meios, incluindo o tráfico de armas provenientes dos Estados Unidos.
Tunjano apontou que muitas armas circulam entre essas facções devido ao legado deixado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), e que o armamento dos EUA pode estar sendo utilizado como moeda de troca nesse mercado clandestino. Outro método de pagamento seria a entrada de mercadorias chinesas no mercado colombiano, vendidas legalmente para gerar lucro em pesos colombianos – uma prática conhecida como "pagamento em espécie".
No México, a luta contra o comércio ilegal tem resultado em grandes operações, como a "Operação Limpeza", que apreendeu mercadorias ilegais em estados como Cidade do México, Sonora, Coahuila, Baja California e Durango. De acordo com Nieto, o valor dos produtos confiscados já se aproxima de um bilhão de pesos. Somente em Sonora, um milhão de itens ilegais, avaliados em cerca de 150 milhões de pesos, foram apreendidos. Em Baja California, o valor foi ainda maior, alcançando aproximadamente 320 milhões de pesos.
O diretor do IMPI explicou que grande parte dos produtos piratas tem origem na Ásia, especialmente na China, e entram no México por portos como Manzanillo, Lázaro Cárdenas e Ensenada. Ele destacou que muitos desses produtos entram formalmente pelas alfândegas, mas sem a documentação adequada. Além disso, foi identificado um fluxo inverso, no qual mercadorias piratas chegam aos Estados Unidos e, posteriormente, retornam ao México por meio de Nuevo Laredo.
Nieto também ressaltou a conexão entre pirataria e crime organizado, mencionando que, em certas regiões, grupos criminosos controlam diretamente a distribuição de produtos falsificados. Ele citou o caso do mercado de Tepito, onde há forte presença das facções Unión Tepito e Anti-Unión Tepito, além da influência do Cartel Jalisco Nova Geração em cidades como Manzanillo e Guadalajara.
O especialista identificou três formas principais de contrabando de pirataria: roubo de cargas durante o transporte, entrada ilegal de mercadorias pelas alfândegas e a produção local, que utiliza equipamentos de fábricas desativadas. Ele reconheceu que, apesar de ser uma atividade de risco relativamente baixo em comparação com o tráfico de drogas ou de pessoas, a pirataria continua sendo altamente lucrativa devido às altas margens de lucro.
Um dos maiores desafios no combate a esse problema, segundo Nieto, é a aceitação cultural da pirataria no México. Ele alertou para os riscos associados a produtos falsificados, como bebidas alcoólicas, cigarros e medicamentos, que podem colocar vidas em perigo. Um exemplo recente foi a apreensão de 242.000 maços de cigarros falsificados em Manzanillo, que prejudicaram empresas como a Philip Morris. Ele também destacou a venda de "mezcal apócrifo", um produto que não atende aos padrões de qualidade e representa sérios riscos à saúde.
Além do impacto na segurança pública e na saúde, a pirataria afeta diretamente a economia local. Nieto observou que a entrada de produtos chineses a preços muito baixos prejudica a competitividade da indústria nacional, resultando em um enfraquecimento da produção local.
O IMPI tem como principais atribuições a realização de ações administrativas, como o fechamento de estabelecimentos, a destruição de produtos apreendidos e a apresentação de queixas formais. Nieto afirmou que a instituição tem incentivado a indústria a recorrer a medidas administrativas, pois são mais ágeis do que processos criminais. No entanto, ele reconheceu que ainda há dificuldades para dar um desfecho definitivo a essas investigações, citando sua experiência na Unidade de Informação Financeira (UIF), onde muitos casos acabavam estagnados após o congelamento de contas.
- piratas pelo mundo
fonte: https://www.infobae.com/
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