Durante mais de uma semana, o mercado financeiro norte-americano sofreu abalos com cada nova declaração do ex-presidente Donald Trump sobre tarifas comerciais. Agora, ele está no centro de acusações que o colocam como potencial manipulador do mercado em benefício próprio ou de aliados.
A polêmica ganhou força após duas postagens feitas por Trump em sua plataforma, Truth Social. Na manhã de uma quarta-feira, pouco depois da abertura da bolsa, ele escreveu em letras maiúsculas: "ESTE É UM ÓTIMO MOMENTO PARA COMPRAR!!". Horas depois, anunciou a suspensão das tarifas mais severas impostas a diversos países.
O impacto foi imediato: os mercados reagiram com entusiasmo e o índice Dow Jones disparou quase 3.000 pontos. Investidores que seguiram o conselho do ex-presidente e compraram ações mais cedo naquele dia viram seus investimentos valorizarem rapidamente.
Antes disso, o clima era de apreensão nos mercados. As recentes decisões tarifárias de Trump vinham gerando queda nas ações, alimentadas pelo medo de impactos negativos na economia. Bilionários e grandes empresários vinham manifestando publicamente suas preocupações.
Diante da pressão, Trump recuou temporariamente, o que foi interpretado como uma resposta direta às críticas. No entanto, essa sequência de eventos levantou suspeitas. Parlamentares democratas e especialistas em ética passaram a questionar se houve tentativa deliberada de influenciar o mercado ou uso indevido de informações privilegiadas.
Os senadores Adam Schiff (Califórnia) e Ruben Gallego (Arizona) enviaram uma carta à Casa Branca pedindo uma investigação sobre possíveis negociações ilegais envolvendo Trump, seus familiares ou membros do governo, baseadas em conhecimento prévio sobre alterações na política tarifária.
Elizabeth Warren, senadora por Massachusetts, também se pronunciou, classificando a situação como uma possível "corrupção escancarada" e defendendo apuração rigorosa.
A Casa Branca, por sua vez, reagiu com acusações de partidarismo. O porta-voz Kush Desai afirmou à NPR que a intenção da postagem era apenas acalmar os mercados e passar confiança aos investidores. “O presidente tem o dever de assegurar os americanos quanto à estabilidade econômica”, declarou em nota.
Entretanto, as críticas não vieram apenas da oposição. Richard Painter, ex-advogado-chefe de ética do governo George W. Bush e professor de direito na Universidade de Minnesota, também expressou preocupação. Para ele, nenhum servidor público — nem mesmo o presidente — deve fazer declarações que influenciem diretamente o mercado enquanto toma decisões políticas que podem afetar os preços das ações.
Segundo Painter, no governo Bush, alguém que fizesse algo semelhante "provavelmente teria sido demitido". Ele não chegou a afirmar que Trump manipulou o mercado intencionalmente, mas destacou que o histórico do ex-presidente levanta dúvidas.
Desde sua eleição em 2016, Trump tem sido criticado por possíveis conflitos de interesse financeiros. Nos últimos tempos, seu envolvimento com o setor de criptomoedas aumentou essas preocupações. Ele tem investido pessoalmente na área, indicado apoiadores das criptos para cargos importantes e prometido uma regulação mais branda para o setor.
Embora vários pedidos de investigação tenham sido feitos, analistas políticos e especialistas em ética não estão otimistas quanto à possibilidade de uma apuração efetiva. Com o Congresso sob controle republicano e a Comissão de Valores Mobiliários (SEC) sem demonstrar interesse claro no caso, poucos acreditam que algo concreto acontecerá.
A situação se torna ainda mais delicada com a recente nomeação de Paul Atkins, indicado por Trump, para comandar a SEC. Além disso, uma ordem executiva assinada pelo ex-presidente em fevereiro deu ao Executivo maior influência sobre órgãos reguladores independentes — incluindo a própria SEC.
Quando questionada sobre o caso, a SEC preferiu não se pronunciar.
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- piratas pelo mundo
Fonte: https://www.npr.org/
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