O presidente em exercício e também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, defendeu nesta segunda-feira (24) que o Banco Central (BC) desconsidere os impactos da inflação sobre alimentos e energia ao estabelecer a taxa básica de juros, a Selic. A sugestão ocorre após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a Selic para 14,25% ao ano, como forma de conter a inflação.
Durante um evento promovido pelo jornal Valor Econômico, Alckmin mencionou que o banco central dos Estados Unidos adota uma metodologia que exclui essas categorias no cálculo da taxa de juros básica da economia americana. Ele argumentou que uma Selic elevada torna o crédito mais caro e pode prejudicar o crescimento econômico.
Na visão do presidente em exercício, o aumento nos preços dos alimentos e da energia decorre, em grande parte, de fatores externos e pontuais, como eventos climáticos extremos e crises geopolíticas. De acordo com ele, essas variações de preços são significativas, mas não possuem relação direta com a política monetária, o que justificaria sua exclusão no cálculo da Selic.
“O preço dos alimentos é muito influenciado pelo clima. Se ocorre uma seca intensa ou uma mudança climática severa, os valores sobem. Mas elevar os juros não fará chover”, explicou Alckmin, destacando que, no caso da energia, a cotação do petróleo segue padrões internacionais.
Embora o Banco Central tenha como principal objetivo o controle da inflação, o ministro defendeu uma abordagem mais flexível, que leve em consideração choques temporários de oferta ao invés de responder a eles com aumentos sucessivos nos juros.
“Os Estados Unidos adotam essa estratégia, excluindo alimentos e energia do cálculo. Acho essa uma medida inteligente, pois permite que os juros sejam elevados apenas onde há maior efetividade no controle da inflação”, avaliou Alckmin.
Ele também ressaltou os impactos negativos da inflação sobre o poder de compra da população, especialmente dos trabalhadores assalariados, que costumam ter reajustes salariais anuais. “A inflação não é neutra socialmente. Ela afeta de forma mais intensa quem depende do salário, que perde poder aquisitivo mês a mês”, afirmou.
Outro ponto abordado foi o efeito da alta da Selic sobre as contas públicas. Segundo Alckmin, cada aumento de 1 ponto percentual na taxa básica de juros eleva os custos da dívida pública em aproximadamente R$ 48 bilhões.
Contexto da Inflação e Juros
Em fevereiro, a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), registrou alta de 1,31%, impulsionada principalmente pelo aumento na conta de energia elétrica, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse foi o maior índice desde março de 2022 (1,62%) e o mais elevado para um mês de fevereiro desde 2003 (1,57%). No acumulado de 12 meses, o IPCA atingiu 5,06%.
Esse patamar está acima da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos – ou seja, variando entre 1,5% e 4,5%.
A taxa Selic é o principal mecanismo utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação. Diante da alta dos preços de alimentos e energia e das incertezas econômicas globais, o Copom decidiu elevar a Selic em 1 ponto percentual na última reunião – o quinto aumento consecutivo, dentro de um ciclo de aperto monetário.
O comunicado divulgado pelo Copom apontou que a economia brasileira segue aquecida, embora haja sinais de desaceleração. O colegiado também alertou para a persistência da inflação, incluindo os chamados “núcleos” – que excluem itens mais voláteis, como alimentos e energia. Além disso, ressaltou que a inflação do setor de serviços pode continuar elevada, mantendo a necessidade de monitoramento da política econômica.
Sobre os próximos passos, o Copom indicou que, na reunião de maio, a Selic poderá ser elevada novamente, mas de forma menos intensa. Entretanto, não deu sinalizações claras sobre as decisões futuras.
O aumento da Selic visa conter a demanda aquecida, uma vez que juros mais altos encarecem o crédito e incentivam a poupança, o que tende a reduzir o consumo e segurar os preços. No entanto, as taxas cobradas pelos bancos aos consumidores dependem de outros fatores, como risco de inadimplência, margem de lucro e custos administrativos, o que pode tornar o crédito ainda mais restritivo e dificultar o crescimento econômico.
Por outro lado, quando a Selic é reduzida, há um estímulo ao crédito e ao consumo, o que pode impulsionar a economia, mas também aumentar a pressão inflacionária.
- piratas pelo mundo
fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/
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